"Por que o caos?" Ora! Quem nunca se fez essa pergunta que me atire a primeira navalha! Todos um dia, digo TODOS, sem exceção, já se fizeram essa pergunta. Uma metade esqueceu-se de se perguntar sempre, principalmente em algumas épocas de alguns anos; um quarto ficou repetindo a mesma pergunta, mas por própria alienação e imbecilidade não encontrou resposta alguma. E o outro quarto, onde está? A gente os vê nas ruas, protestando, nos sindicatos, nos tabernáculos, nos poemas e até mesmo nas prisões, pois quem me garante que só existem ladrões nos presídios? E quem me garante que não existem ladrões no Senado Federal?
Ora! Sejamos realistas, para existirem tantos hospitais na UTI e tantas escolas e Universidades formando mentes alienadas e almas bovinas, só mesmo existindo muitos ladrões no poder, não é mesmo? É, mas surge daí uma pergunta que grita: quem os colocou lá? Quem é que permite com que existam tantos bandidos engravatados no volante do Estado?
Se olharmos um pouquinho para trás, veremos uma multidão de cara-pintadas gritando “Fora Collor!!!”. Onde está Collor agora? Collor está hoje num dos maiores cargos políticos do Brasil. Se olharmos para dentro, perceberemos que mães e pais choram inconsolavelmente a perda de um filho em um leito de hospital, à espera de médicos e remédios. Filhos que se perdem ou se perderam no submundo das drogas e da criminalidade. Daqui a pouco mais de um ano, essas mesmas pessoas que hoje choram, estarão entregando a sua saúde, a sua educação, a sua segurança e a sua dignidade humana a um político barrigudo em troca de uma cesta básica ou um saco de cimento.
Se existe alguém mais culpado por todo caos que vivenciamos no Brasil desde muito tempo, esse alguém é, sem dúvida, o eleitor brasileiro. Se no poder existem pessoas que vão de ladrões engravatados a palhaços descomprometidos, é porque nós os colocamos lá, ou melhor, a maioria da população, porque, felizmente, ainda existe aquele um quarto de pessoas que pensam, que se perguntam “Por que o caos?”.
Hipócritas! Isso é o que somos hipócritas. Se fôssemos mais honestos e sinceros, não hesitaríamos em sair às ruas para pegar do governo aquilo que nos pertence. Hipócritas e sem vergonhas. Somos brasileiros apenas na Copa do Mundo, quando todos esquecemos o caos que vivemos e voltamos os olhos para meia dúzia de imbecis que correm desesperadamente. É nesse momento, e somente nesse, que cantamos 'Eu... sou brasileiro... com muito orgulho... com muito amôôr. São nesses momentos que esquecemos o mendigo que dorme ao relento, a menina que está sendo abusada sexualmente pelo padrasto tarado, os 14 milhões de brasileiros na completa miséria, os 17 milhões de alfabetos e outras dezenas de milhões que sucumbem nas filas de hospitais. Não, estão ali, na frente de uma TV, sofrendo junto com seu país na copa! Hipócritas!
Estamos fazendo desta terra rica e trigueira um antro de sem-vergonhice. Estamos jogando na lata de lixo, que, no Brasil tem muito, o respeito que nossas crianças, nossos enfermos e nossos e nossos mendigos deveriam ter garantidos. Parece até que esquecemos que os patrões somos nós.
E não falo apenas de políticos mentirosos e ladrões, falo também daqueles latifundiários, madeireiros, escravocratas e exploradores que circulam nos melhores carros em nossas ruas. O que você acha? Não, não acredito que... você não sabia que também são ladrões? Claro, nem todos, mas existem, e aos montes. São eles que exploram as riquezas deste país e ficam com todo o lucro.
São eles que comem e aquilo que deveria estar dividido equitativamente na mesa de todos os brasileiros. São eles que deixam as escolas públicas às moscas e roubam os melhores lugares nas Universidades públicas para seus filhinhos bem nutridos.
Hipócritas eles?! Não, hipócritas somos nós, que aceitamos tudo isso de boca calada. Hipócritas somos nós que mantemos no poder quem nos rouba e congela o sistema este explorador.
Acredito piamente que tudo possa ser resolvido com uma boa dose de reforma política. Mas não esperemos que os políticos façam essa tão esperada reforma. Façamos nós mesmos, no dia em que formos às urnas, no momento de ouvir cada proposta, no momento certo de ir às ruas para tirar do poder as maçãs podres que, aliás, são muitas.
Deixemos de ser este país condenado a ser o país dos sem-vergonha e criemos um pingo de respeito na cara!!!
AUTOR: Poesia da Fome
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