Há exatos cinco anos, no dia do meu
aniversário de 20, eu me empenhei na estranha tarefa de cortar uma fatia de
bolo de baixo para cima e concentrei energias para fazer alguns pedidos.
Mentalizei paz e saúde que nunca podem faltar, respirei fundo e abri a caixinha
mental dos pedidos improváveis: boas notas na faculdade; um estágio; dinheiro;
mais amigos; menos três quilos e um namoro com o carinha de quem eu estava
gostando. Quase nada aconteceu. Graças a Deus.
Seis meses depois daqueles pedidos, eu
perdi um período na Faculdade devido às notas baixas e na nova turma conheci
amigos que mudaram completamente a minha vida.
Não consegui um bom estágio e
aproveitei o tempo livre para retomar o velho hábito de escrever, que, vai
entender, hoje é o que mais me alegra e me faz sentir prazer.
Não tenho mais dinheiro do que naquele
dia e se antes eu desejava abundância, hoje peço sensatez para aprender a
consumir menos e não enxergar a alegria naquilo que não tenho.
Tenho menos amigos do que há cinco
anos. Muito menos. Tenho poucos amigos que me livram da solidão como se
fossem uma verdadeira multidão.
Também não perdi peso. Ganhei. Ganhei
dois quilinhos e um amor próprio que desconfio que more nos meus culotes. Por
via das dúvidas, acho melhor não perdê-los.
Quanto ao carinha de quem eu gostava…
Bom, não preciso nem dizer que em duas semanas eu deixei de gostar e hoje não
sei se é o tipo de pessoa com quem eu gostaria de conversar. Muito menos
namorar.
Fato é que a gente cresce ouvindo que o
tempo é Senhor da razão sem prestar muita atenção. Queremos tudo logo. Tudo
para ontem. Temos pressa, ansiedade e ambição. Achamos que sabemos o que é
melhor para nós quando muitas vezes o comando não é só nosso. Desejamos
besteiras. Fazemos pedidos fugazes e invocamos as forças do universo em vão.
Hoje eu só peço paciência e sensatez
para entregar meu destino ao tempo, que por toda a vida vem mudando os meus
desejos com sabedoria e compaixão. Hoje troco certezas por cervejas e peço que
à beira de uma mesa de bar, minhas ideias, desejos e vontades continuem a mudar.
Peço serenidade para não engessar e quem sabe até um pouco de maturidade para
parar de desejar essas coisas bobas que daqui a cinco anos podem até me
envergonhar.
Martha Medeiros
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