“A construção da pátria será o vosso consolo!”
“A construção da pátria será o vosso consolo!”. Que consolo? Até hoje vejo uma nação inteira esquecida e que chora na sarjeta da modernidade, em um país onde a injustiça social e a violência cometidas pelo próprio Estado são ignoradas. Que consolo, se ainda há lágrimas... e sangue?
Que consolo, se ainda vemos restos humanos sendo sufocados (ou melhor, enforcados) por este sistema excludente e desumano?
Não podemos negar uma realidade tão devastadora em um país tão vasto como o Brasil. Não podemos deixar de olhar o mendigo na rua só porque isso nos faz sentir mal, pois isso seria uma hipocrisia. Fazemos coisas das quais deveríamos nos envergonhar e, no entanto, convivemos com isso como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não podemos negar que a maior injustiça é aquela praticada pelos mais altos escalões da sociedade. Quem não é cego pode perceber. Bata olhar para o caso do menino Juan, que foi baleado pelos policiais e dado por desaparecido na favela Danon, em Nova Iguaçu, e só depois de 18 dias foi encontrado morto!!!
E não se pode esquecer-se dos mais de 14 milhões de famintos, que dia após dia, vêem-se surrupiados pelos ladrões engravatados que estão no volante do Estado, e ainda por cima são enganados com falsas promessas de ascensão. Crianças que se vêem destinadas a um futuro de maldades (embora, felizmente, ainda possam escolher outro caminho), subjugados e sujeitos à exploração, em seus mais diferentes aspectos.
Desculpe amigo leitor, se estou fazendo-lhe perder um minuto de sua vida, mas não devemos esconder nossas incertezas se quisermos viver um mundo cheio de tantos “?”. Não podemos deixar de dizer “não sei”, mas também devemos ter a certeza de dizer um “não” quando se trata de um assunto tão crucial.
Se alguém fala que a solução para os problemas de segurança é liquidar os deliquentes e abrir um paredão da morte para todos os menores infratores e você cala, estará consentindo, mais uma vez, com o atual sistema econômico-social-político que está enferrujando. Você estará enfiando uma faca na barriga de um inocente, que, de vítima, passou a vilão.
“Vamos matar em massa para que a massa não nos mate mais tarde!”. Na verdade, abrir um esquadrão da morte seria cometer um genocídio, abrir uma verdadeira ferida nos princípios dos direitos humanos, porque os maiores assaltos que sofremos não são o de arma em punho, mas são através de decretos-leis, de atos praticados pelos mais altos escalões.
Não posso, de maneira alguma, concordar com o assaltante, mas também não posso ficar abitolado em um único caso. Isso não resolverá problema do país. Quem é que produz uma geração inteira de analfabetos, delinquentes, meninos de rua, famintos e todo tipo de “ameaças” para a paz da sociedade? Quem é que dá a terra fértil para a proliferação de ervas-daninhas e pragas? Hã?
Não devo apenas apontar a consequência, mas, principalmente, partir para a causa estrutural. Ninguém (ou quase ninguém, não é mesmo?) nasce roubando porque quer. Ninguém se prostitui porque gosta, mas porque são empurrados pelo sistema− isso mesmo, o sistema. É o chavão típico do capitalismo: “O pobre cada vez fica mais pobre, e o rico então...”. É só observar as estatísticas: 98% dos presidiários são pobres, extremamente pobres, 87% são negros e mais de 60% são analfabetos. E aí? O que se espera para o futuro?
Se não quisermos mais ver o mendigo na rua ou o menor vendendo balinhas em trânsito aberto, é melhor pensarmos um pouco mais sobre o nosso papel de cidadão. É melhor que pensemos um pouco mais na hora de sair às urnas e decidir os motoristas do nosso Estado. Pensemos um pouco melhor e você deixará de acusar o favelado porque ele roubou a sua correntinha de ouro.
Ass.: Poesia da Fome
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