Negro, Vamos à luta


Negro, Vamos à luta
É indiscutível dizer que a sociedade que herdamos do século XX está em frangalhos e isso é fruto de uma herança cultural de submissão tricentenária. O Brasil já nasceu subjugado, submisso aos comandos do branco, que chegou ao mundo novo mandando em todos que aqui encontrou. Aprendemos desde séculos a ser submissos. Nossos antepassados já passariam a baixar a cabeça diante dos ditames da sociedade do século XVII.


A sociedade do século XX reafirmou os ideais capitalistas de exclusão do negro, jogando-o ainda mais às periferias de nossas cidades e alicerçando os muros que que separavam os dois mundos, os dois Brasis que foram construídos de atores sociais distintos e hierarquizados, marginalizando o negro e a mulher, e pondo-os em condições deploráveis, na sarjeta da modernidade, onde se amontoam os mais de 14 milhões de analfabetos, os quase 15 mihões de famintos e as outras dezenas de milhões de negros que ainda hoje vivem nos tugúrios, quando não nas ruas desertas e perigosas...
Cria-se, nessa sociedade, a figura do bandido: preto de cabelo pixaim, vestido de molambo ou algo assim, calçado de chinelo e com um boné virado [quando tem]. O negro passa a ser, então, o típico “bandido brasileiro”, ou seja, tem cara de ladrão, é um mau elemento...
Dizer que bandido tem cara de bandido aqui no Brasil é solidificar de uma vez por todas o racismo, é concordar com o sistema alienador que é imposto à população negra, que tem uma história de racismo quase milenar. Dizer que bandido tem cara de bandido é fechar os olhos mais uma vez para o sistema que define o lugar de cada um na sociedade. Desculpem-me a expressão (e desculpem-me se o chapeuzinho servir), mas afirmar tamanho desastre é ser “burro”, é ser ensinado a olhar somente em uma direção, é ser cego por olhar somente a sua própria imagem no espelho.
Dizer que bandido tem cara de bandido aqui no Brasil é solidificar de uma vez por todas o racismo, é concordar com o sistema alienador que é imposto à população negra, que tem uma história de racismo quase milenar.
Somos um povozinho abestado, ignorante e imoral. Estamos vendo a sacanagem política e social se arrastando à nossa frente, esfregando-se ao nosso rosto e mesmo assim não fazemos absolutamente nada, nada de útil. Ainda vemos, realmente, algumas poucas cabeças pensantes que se organizam e tentam mostrar o vidro sujo do capitalismo.
Somos um povozinho abestado, ignorante e imoral. Estamos vendo a sacanagem política e social se arrastando à nossa frente, esfregando-se ao nosso rosto e mesmo assim não fazemos absolutamente nada, nada de útil.

Será que nascemos burros ou fomos ensinados a agir como tais? De início já somos ensinados a ter a cabeça branca e assim somos até hoje: burros, covardes, cegos e mortos (é isso mesmo, mortos... para a mundo). Passamos então a alisar o cabelo, a renegar a nossa cultura, nossos gestos e nossos direitos enquanto negros. Somos, então, brancos, mas brancos por medo de assumir nossa cor, nossa pele.
Antes de me finalizar, gostaria apenas de lembrar a todo o povo brasileiro que o Brasil mantém com o negro uma dívida astronômica que só vem aumentando ao longo de 500 anos de história, e se hoje cobramos melhorias na qualidade de vida do negro, não estamos pedindo favores, nem queremos, mas estamos, sim, exigindo o mínimo do que é nosso por direito, o que nos foi roubado e privado. E não adianta negar, pois não vamos nos curvar de fazermos parte ativa da sociedade, hoje racista!
...se hoje cobramos melhorias na qualidade de vida do negro, não estamos pedindo favores, nem queremos, mas estamos, sim, exigindo o mínimo do que é nosso por direito, o que nos foi roubado e privado. E não adianta negar, pois não vamos nos curvar de fazermos parte ativa da sociedade, hoje racista!

By Poesia da Fome

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